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Vicente Nica foi um camponês nascido em 10 de julho de 1932, na grota do Barreiro, filho de Antônio Gonçalves Afonso e Maria Alves Azevedo. Apesar de não ter estudado era líder dos camponeses do Vale do Jequitinhonha, área em que a posse, individual e coletiva, resistia contra a invasão de falsos fazendeiros. Desde que abriu seu situ nas terras posteriormente reivindicadas pelos grileiros (pessoa influente e de posses) da fazenda Mato Grande e São Miguel, Vicente Nica sempre esteve à frente das lutas travadas pelos situantes da região. De fé pentescostal, na década de 70, aproximou-se dos movimentos da Igreja Católica e aprofundou sua militância. Em 1982 candidatou-se a Deputado Federal pelo Partido dos Trabalhadores, obtendo 5 mil votos, só deixando de ser eleito devido à falta de alianças com outros partidos políticos. Com esta experiência, desenvolveu um entendimento perfeito e acabado da situação do campo brasileiro. Vicente Nica também desenvolvia suas técnicas de manejo do solo e proteção ao meio ambiente. Vicente Nica faleceu um ano antes da criação do CAV, sendo o nome do centro uma homenagem à sua memória.
Fonte: Vicente fala: Uma Mão na Terra Outra no Coração/1993.
Na década de 1970 o Vale do Jequitinhonha vivenciou um período de intensas mudanças políticas, sociais, culturais e econômicas. Impulsionada pelos incentivos governamentais, as monoculturas de eucalipto se alastraram pelo Vale, o que fez com que os agricultores (as) fossem encurralados nas suas grotas pela tomada das áreas de uso comum (chapadas) pelo eucalipto. Era os efeitos da chamada “Revolução Verde”. A região sentia os impactos das técnicas insustentáveis de produção, a água para consumo humano e fins produtivos se torna um bem cada vez mais escasso, além da mudança de hábitos alimentares e comerciais pela maior incidência do comércio de produtos industrializados. Fatores estes que dificultaram o desenvolvimento e escoamento da produção. Tudo isso se agrava pela falta de políticas públicas direcionadas a agricultura familiar. A migração torna-se a principal alternativa para a sobrevivência dos (as) agricultores (as) na região. Buscando uma saída para tais problemas, os agricultores (as) organizados através do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Turmalina, com apoio da Igreja Católica e Organizações não Governamentais da época, fundam o Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica, em 1994, como uma associação da sociedade civil sem fins lucrativos.\n\nPara encontrar uma “resposta” aos desafios enfrentados pela população rural, o CAV busca aliar os conhecimentos técnicos acadêmicos com o saber e a vivência dos agricultores, e conjuntamente implementam metodologias e alternativas para desenvolver de forma sustentável a agricultura familiar da região. São desenvolvidas assim ações no tocante à recuperação de solos degradados, produção agroecológica, difusão de tecnologias sociais para acesso e gestão dos recursos hídricos, geração de emprego e renda norteados por princípios associativistas e cooperativistas através da economia popular solidária e a promoção de uma maior equidade nas relações sociais de gênero.
Contribuir no desenvolvimento da agricultura familiar do Vale do Jequitinhonha por meio de práticas sociais que permitam influenciar nas políticas públicas, melhorar as condições de vida, as relações humanas e o convívio com o meio ambiente. Destacar-se na evolução sócio econômica e ambiental da agricultura familiar do Vale do Jequitinhonha.
O CAV é uma associação sem fins lucrativos composta por uma diretoria que em sua grande maioria é formada por agricultores e agricultoras familiares que trabalham de forma voluntária e que é eleita em assembleias pelos sócios da organização. A diretoria é composta por presidente, vice-presidente, tesoureiro, vice-tesoureiro, secretário, vice-secretário, e um conselho fiscal composto de três membros efetivos e três membros suplentes. A entidade tem como fórum maior de decisões as assembleias ordinárias anuais e extraordinárias. Além de outros assuntos, na assembleia anual ordinária é realizada a prestação de contas de todos os projetos geridos pela entidade durante o ano. A equipe técnica é composta por profissionais com diferentes níveis de formação, dentre eles um coordenador geral. Os trabalhos são divididos em setores, onde cada um é organizado de acordo as linhas de atuação. Os setores buscam trabalhar de forma integrada e com periódico nivelamento de informações entre a equipe através de reuniões semanais. A diretoria participa regularmente de reuniões com toda equipe técnica com o objetivo de se manter inteirada dos trabalhos e poder atuar nas decisões que envolvam a organização. Uma vez por ano, juntamente à diretoria, a equipe faz um momento de avaliação dos seus trabalhos e elabora seu planejamento anual de atividades, que é revisado coletivamente a cada seis meses por como forma de monitoramento dos trabalhos realizados.